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Mulheres por trás das câmeras

Sabemos que as mulheres são maioria no Brasil, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, elas representam 51% da população no país. Também é de conhecimento geral, e inúmeras pesquisas confirmam, que a presença feminina no mercado de trabalho formal é menor, bem como a sua remuneração, em qualquer cargo e área. Felizmente existem exceções, mas elas não são a regra.

A popularização da discussão nos meios de comunicação sobre temas como representatividade e empoderamento trouxeram questionamentos, inclusive, sobre a participação feminina no mercado do audiovisual, que também é menor quando comparada à presença masculina, porém aos poucos observamos alguma mudança.

Desde 2017, visando contribuir para esse debate e auxiliar na formulação de políticas públicas que visem a equidade de gênero no setor, a Ancine publica informes sobre a participação feminina na produção audiovisual brasileira. Em sua última publicação, com dados de 2017 e 2018, a pesquisa apontou aumento da participação feminina nas atividades de direção, roteiro e direção de fotografia, com incremento de dois pontos percentuais em 2018 com relação ao ano anterior. A participação feminina da produção executiva também aumentou e chegou a 41%. E como nos anos anteriores, o destaque ficou para a atividade de direção de arte, onde a presença feminina ultrapassou a masculina ficando em 57% contra 37%. Ainda assim, mais de 70% da produção audiovisual brasileira em 2018 foi dirigida por homens.

 

Sobre o cinema do gênero de terror, Beatriz Saldanha, crítica, pesquisadora e curadora de cinema (e que também possui um curta em produção), acredita que alguns dos filmes de horror nacionais mais importantes feitos nos últimos anos foram realizados por mulheres e cita nomes como: Anita Rocha da Silveira (“Mate-me, Por Favor”), Juliana Rojas (“As Boas Maneiras”), Gabriela Amaral Almeida (“Animal Cordial” e a “A Sombra do Pai”), Marina Meliande (“Mormaço”), além de Alice Furtado, diretora do longa-metragem “Sem seu Sangue”, ainda inédito no Brasil, mas já exibido em Cannes.

No cinema internacional, Saldanha destaca a inglesa Ida Lupino, atriz de Hollywood que se tornou diretora na década de 1950, criando sua própria produtora, seus filmes, essencialmente de suspense, muitas vezes flertavam com o horror psicológico, como o longa “O Mundo é o Culpado”, e as francesas Claire Denis (“Desejo e Obsessão”) e Marina de Van (“Em Minha Pele”), que fizeram filmes de horror extremo no começo dos anos 2000. A crítica também cita a sul-coreana Soo-youn Lee e seu filme “Bluebeard”.

A mudança no modo técnico de fazer cinema também favoreceu o acesso de mulheres aos meios de produção, com a transição da película para o digital, os custos das filmagens caíram, “isso fez com que o cinema se tornasse mais acessível e democrático para todo mundo’, explica Saldanha.

Considerando os cortes de políticas públicas para o incentivo no audiovisual, a pesquisadora diz que haverá mais dificuldade para aqueles que trabalham com temas estigmatizados, seja horror ou filmes de temática LGBTQ devido a nova onda conservacionista do governo. “Mas, por outro lado, vejo um interesse por parte de empresas privadas em investir nesses nichos, e existe nessas empresas vontade de agregar minorias a seus projetos”.

 

Criar medidas que facilitem o acesso de mulheres nas produções audiovisuais é uma preocupação da Ancine que já estabeleceu cotas para participação de gênero e raça no “Concurso Produção para Cinema” que destina recursos para longas-metragens independentes. A Agência Nacional do Cinema também estabeleceu igualdade de gênero nas comissões de seleção de filmes para recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Saldanha também ressalta que há interesse por parte dos pesquisadores em resgatar nomes que ficaram obscurecidos pela história. Atualmente, muitos festivais também possuem cotas para produções feitas por mulheres, é algo que os curadores levam em conta. “Nesses festivais são promovidas rodas de conversa e mesas de debate sobre o assunto. Enfim, eu acho que medidas como essas que já estão sendo tomadas devem ser mantidas de modo a reparar este prejuízo histórico”.

Apesar de trabalhar a muitos anos com o cinema de horror, Beatriz diz que não pode reclamar sobre ser uma mulher nesse mercado, em todo esse tempo atuando como crítica ou curadora, só teve uma experiência negativa, um caso de mansplaining durante uma mesa de debate – justamente sobre mulheres no horror. Entretanto, ela relata que muitas de suas colegas de profissão reclamam sobre ofensas e assédios on-line que recebem nas redes em que divulgam seus trabalhos.

“O meu curta-metragem ainda está em processo de pré-produção, mas até então não tenho do que reclamar, os profissionais com quem estou trabalhando são muito gentis. Mas sei que o set é, de modo geral, um lugar onde existe muito assédio físico e moral”.

 

Beatriz Saldanha, crítica, pesquisadora e curadora de cinema

 

Em relação à produção do seu curta-metragem, Saldanha conta como entrou nesse projeto em meados do ano passado. Em maio de 2019 estreou, através da Elo Company, o filme “Histórias Estranhas”. Ele é um compilado de curtas-metragens independentes, de diferentes cineastas brasileiros. O filme ainda estava em cartaz quando Ricardo Ghiorzi, idealizador do projeto, a convidou para dirigir um episódio do “Histórias Estranhas 2”, cujo tema seria “demônios e possessões”. Ela ficou surpresa com o convite, já que, apesar de escrever sobre horror há muitos anos, nunca havia sequer pisado em um set de filmagem, mas Ghiorzi a convenceu.

Após aceitar o convite o rumo de sua vida mudou completamente, Beatriz começou a escrever o argumento, o roteiro e montou uma equipe. Para a sua surpresa, muitas das pessoas com quem ela sonhava trabalhar aceitaram imediatamente a proposta. “Estávamos prestes a lançar um projeto de financiamento coletivo quando a Covid-19 interrompeu os nossos planos. Agora, estamos fazendo o possível a partir de nossas casas, mas o cronograma de filmagens e pós-produção já foi completamente afetado”.

O curta-metragem foi intitulado de “Diamanda” e a trama conta a história de uma mãe de família que está retornando ao mercado de trabalho depois de muitos anos. Certa noite ela sai para um jantar de negócios, deixando as suas duas filhas sozinhas em casa. A mais velha, de 16 anos, precisa tomar conta da mais nova, de seis anos. Tudo corre bem, até que uma aparição inesperada transforma a noite em um verdadeiro inferno.

Mal podemos esperar!

 

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