Logo após se mudar para uma enorme mansão em Denver, Russell Hunter percebeu que não estava sozinho.
Mesmo sem nunca ter assistido ao longa “Intermediário do Diabo”, é provável que você esteja familiarizado com a trama desse clássico dos anos 1980, isso porque a cena icônica da bola vermelha descendo as escadas da mansão foi referência para inúmeros filmes de terror ao longo dos anos.
De fato, a sequência chegou à 54ª posição na lista dos 100 momentos mais assustadores do cinema nos Estados Unidos e o diretor Martin Scorsese incluiu “Intermediário do Diabo” na lista dos 11 filmes mais assustadores de todos os tempos. Produções como “O Chamado”, “Os Outros” e “A Colina Escarlate” de Guillermo del Toro, também se inspiraram na história contada na película. Mas, o que você talvez não saiba sobre “Intermediário do Diabo” é que a trama sobre um espírito malévolo que assombra uma mansão sinistra se baseia em uma história real.
Em 1968, o compositor Russell Hunter mudou-se de Nova York para uma antiga mansão perto de Cheesman Park, em Denver, Colorado. Mais tarde, ele afirmou em uma entrevista que alugou a propriedade pelo “preço inacreditável de US$ 200 ao mês, porque ninguém mais queria morar lá”.
Em fevereiro de 1969, Hunter começou a vivenciar fenômenos estranhos na casa que o fizeram temer por sua vida. Tudo começou com inúmeras batidas todas as manhãs às 6h, que paravam sempre que Hunter saía da cama. Portas abriam e fechavam sozinhas assim como as torneiras e as paredes vibraram com tanta violência que os quadros caiam no chão.
Enquanto investigava os estranhos distúrbios, Hunter alegou ter encontrado uma escada nos fundos de um armário no andar de cima da casa. A passagem estreita levava a uma sala secreta onde encontrou os pertences – incluindo um diário – de um garoto que havia morado ali há um século. O compositor examinou o conteúdo do diário e conduziu uma sessão espírita para encontrar mais pistas sobre os eventos paranormais. Ele constatou que o fantasma que habitava o local era de uma criança debilitada que viveu na casa e herdou a fortuna da avó antes de sucumbir à sua doença.
Com a morte do garoto, seus pais ficaram preocupados com a possibilidade de a herança passar para outro membro da família caso surgissem notícias sobre seu falecimento. Foi então, que o casal inescrupuloso decidiu enterrar o corpo de seu filho em um terreno a sudeste de Denver. Em seguida, adotaram um menino de um orfanato local para se passar pelo filho morto, que aceitou a herança e acabou tendo uma vida bem-sucedida.
Segundo Hunter, o fantasma do garoto doente o levou ao local aonde havia sido enterrado, na South Dahlia Street, em Denver, que agora já possuía uma casa construída no terreno. O compositor contou que o espírito da criança ameaçava prejudicar a família que vivia lá caso eles não dessem permissão para Hunter cavar a sepultura. Após certa resistência, a família concordou e não demorou muito para Hunter e sua equipe desenterrarem os restos mortais do menino junto com um medalhão de ouro gravado com o nome dele.
Infelizmente, a terrível descoberta não resolveu o problema de Hunter, na verdade, a assombração só piorou. Certo dia um conjunto de portas de vidro estourou no rosto do compositor, cortando uma artéria do seu pulso, logo após o acontecimento, a parede atrás da cama de Hunter implodiu e desmoronou em cima dele.
Temendo por sua vida, Hunter fugiu da mansão e se instalou em uma nova casa na Kearney Street. Mas as assombrações o seguiram. Cansado daquela situação, ele finalmente chamou um padre para realizar um exorcismo, que parece ter resolvido o problema.
O relato de Hunter parecerá familiar para quem já assistiu “O Intermediário do Diabo”. A bola vermelha já mencionada aparece no conto original, pois aparentemente era o brinquedo favorito do garoto doente. Suas afirmações também parecem ser fáceis de corroborar.
Entretanto, quando se investiga melhor a sua história, surgem algumas lacunas. Recentemente, a Biblioteca de Denver fez um excelente trabalho ao verificar as alegações fantasmagóricas de Hunter. Entre as descobertas está a ausência de registros concretos de que Hunter realmente morou na mansão, embora tenha residido em Denver no final da década de 1960, quando ajudou seus pais a administrar o hotel Three Birches Lodge em Boulder.
Quanto ao garoto que supostamente assombrou a casa, também não há nenhum registro sólido dele, e não havia como ele morar na casa um século antes de Hunter, pois ela só foi construída em 1892. Os mistérios que cercam a história de Hunter intrigam investigadores paranormais, porém, é fato que a família que construiu a mansão possuía terras agrícolas em torno de onde se dizia estar localizado o túmulo da criança.
Apesar de todas as dúvidas, até hoje pessoas ainda relatam acontecimentos estranhos no bairro de Cheesman Park, como sensações repentinas de medo, vozes e orbes fantasmagóricos que aparecem nas fotografias. É provável que isso não tenha nenhuma relação com a mansão assombrada, mas sim com o fato de Cheesman Park ser originalmente um cemitério. Em 2010, trabalhadores que cavavam o local para instalar um sistema de irrigação descobriram quatro esqueletos enterrados no parque.
“Intermediário do Diabo” segue passo a passo a história de Hunter com algumas inclusões dramáticas no enredo. Na trama, o renomado compositor John Russell perde sua esposa e filha em um trágico acidente de carro no início do filme. Para recomeçar sua vida, ele se muda para uma mansão em Seattle para trabalhar como professor de música. As experiências do personagem refletem as de Russell Hunter.
O longa figura em muitas listas dos melhores filmes de terror, é uma obra de mistério bem dirigida e maravilhosamente assustadora. Se você nunca assistiu, agora é o momento de apagar as luzes, fechar as cortinas e desfrutar dessa ótima história sobrenatural.
“Intermediário do Diabo” está disponível na plataforma da Darkflix.