Para os seguidores da Darkflix, não é novidade que “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) é um dos filmes de terror mais importantes de todos os tempos. Não apenas inspirou várias sequências e reboots, mas também foi uma adição completamente nova ao gênero de terror, que abriu as comportas para jorrar o sangue de viajantes desavisados. Leatherface ainda é um dos vilões mais perturbadores da história do cinema, e acredite, há mais detalhes por trás da história da louca família Sawyer/Hewitt do que os fãs podem imaginar.
Conto de fadas e Trolls
Quando o diretor Tobe Hooper e o escritor Kim Henkel decidiram se unir – eles já haviam trabalhado juntos em “Eggshells”, filme indie de baixo orçamento e pouco sucesso – já sabiam que o projeto seria um terror. No início, a dupla considerou uma versão sinistra da já sombria fábula de João e Maria, mas então pensaram em outro tipo de narrativa do conto de fadas: Trolls. Sim, a criatura mítica antropomórfica do folclore escandinavo. Se eles tivessem seguido o pensamento original, o filme se chamaria “Head Cheese” e seguiria um grupo de trolls que vivem sob uma ponte. Poderia ter sido tão bem-sucedido quanto “Eggshells” se eles não tivessem surgido com uma nova ideia.
Ed Gein, outros assassinos e politica
Qualquer fã de “O Massacre da Serra Elétrica” que se preze sabe que o vilão Leatherface foi, em grande parte, inspirado pelo serial killer Ed Gein (que também foi lembrado por Alfred Hitchcock em “Psicose”), mas ele não foi o único psicopata usado para dar realismo à trama. Hooper chegou a dizer em entrevista para a revista Interview, que a ideia do Leatherface foi, na verdade, derivada de uma história que seu médico lhe contou sobre as pegadinhas de mal gosto praticadas por ele durante o curso de medicina. “Quando ele era discente de medicina, a classe normalmente estudava cadáveres. Certa vez, ele foi ao necrotério, esfolou um cadáver e criou uma máscara para o Halloween”, contou o diretor. Este é um dos casos em que a verdade é muito mais estranha do que a ficção.
Hooper também pesquisou um assassino em série adolescente do Texas chamado Elmer Wayne Henley. Ele observou Henley confessar seus crimes e achou fascinante o seu comportamento após ser apreendido. “Ele estufou o peito e disse: ‘Eu cometi esses crimes e vou me levantar e encarar isso como um homem.’ Bem, isso me pareceu interessante, que ele tivesse essa moralidade convencional naquele ponto. Ele queria que soubessem que, agora que havia sido pego, faria a coisa certa. Foi esse tipo de esquizofrenia moral que tentei construir nos personagens “, explicou o diretor.
Em relação ao clima do filme, Hooper e Henkel não precisaram ir tão longe, bastou acompanhar as notícias para terem uma leitura sobre a agitação cultural que existiu após o final da Guerra do Vietnã. Já a ideia de implementar uma serra elétrica no roteiro surgiu durante as compras de final de ano em uma loja lotada devido à proximidade do Natal. Foi durante a péssima experiência que o cineasta imaginou pessoas sendo mortas por uma motosserra. Uma brincadeira que caiu muito bem na trama. “Eu olhei para baixo e havia uma prateleira à minha frente com serras elétricas à venda. Eu disse, ‘se eu começar a serrar, as pessoas simplesmente se separariam. Elas sairiam do meu caminho'”, explicou.
Hopper estava trabalhando na história, com a ideia de jovens, universitários, isolados de seu ambiente. Também havia os problemas econômicos e políticos que o pais enfrentava no final da década de 1970, era uma época interessante, com vários elementos que foram compilados pelo diretor rapidamente, enquanto estava em seu carro. “Veio de verdade rapidamente – toda a configuração dos personagens – e o loop, a maneira como a história gira dentro de si mesma.”, disse.
A tortura de Tope Hooper
Vale esclarecer que a produção do longa aconteceu no Texas, em uma época de calor escaldante, certamente a condição gerou desconforto e algumas queixas da equipe e elenco, mas foi durante as filmagens que as coisas se tornaram mais “intensas”. Para começar, Hooper manteve o ator Gunnar Hansen (Leatherface) isolado do resto do elenco, ele só aparecia durante as gravações das cenas. A ideia do diretor era provocar sustos reais nos atores. Esse era apenas um dos muitos métodos que Hooper utilizou para evocar o horror espontâneo de suas estrelas.
Para se ter uma ideia, o ator Paul A. Partain, que interpretou o cadeirante Franklin Hardesty, não podia almoçar com os outros atores, tão pouco tomar banho.
A repetição das cenas também era algo habitual. Marilyn Burns, que deu vida à Sally Hardesty, precisou arrombar a porta do posto de gasolina por 17 vezes sem nenhum equipamento de segurança, aliás, Burns foi a que mais sofreu fisicamente durante as filmagens, ela ganhou um olho roxo em uma das cenas, sofreu sérios arranhões durante uma fuga pela floresta e teve um de seus dedos cortados de verdade na cena na mesa de jantar. Felizmente, no que diz respeito a motosserra, a sua corrente foi removida para que nenhum dos atores se ferissem.
Campos verdejantes e tentadores
De acordo com o relato autobiográfico de Gunnar Hansen em “Chain Saw Confidential: How We Made the World’s Most Notorious Horror Movie” que fala sobre os bastidores do filme, o dono da casa utilizada como cenário para o filme cultivava maconha em alguns hectares atrás da residência, e logicamente, o elenco e equipe se serviram da erva. Na verdade, um dos editores preparou brownies de maconha para todos. A degustação começou antes de gravar as últimas cenas que incluíam acrobacias bastante perigosas, ou seja, os atores estavam sob a influência da “droga”.
O ator John Larroquette, responsável pela narração na abertura do filme, foi pago por seu trabalho com um baseado. Segundo Larroquette, ele conheceu Hooper através de um amigo em comum durante uma viagem, os dois logo se deram bem. Alguns anos depois, o diretor entrou em contato e pediu que o ator gravasse a introdução do filme de graça, ele possuía alguma experiência como DJ e topou. “Entrei no estúdio, vi o papel, li para ele, gravei, disse adios, ele me deu um baseado, acho que como pagamento, e foi isso.” Larroquette nunca se preocupou em assistir ao filme, ou qualquer um de seus sucessores, mas as coisas acabaram valendo a pena para ele quando foi convidado a narrar a série quase 30 anos depois. “Quando reinventaram a série sem Tobe, fui chamado para fazer a narração novamente e realmente fui muito bem pago por isso. ” O favor feito a um amigo sem dinheiro nos anos 1970 valeu a pena.
Sem carne para o jantar
Um dos temas centrais do longa original foi a maneira como as vítimas eram massacradas (da mesma forma que os animais). As vítimas eram golpeadas na cabeça com uma marreta, penduradas por ganchos e então armazenadas em freezers. Fica implícito que eles eram mortos para ser estocados e posteriormente consumidos pela família de canibais. Hooper, que havia se tornado vegetariano devido à suposta crueldade da indústria da carne, usou um matadouro real, pelo qual passava em viagens regulares, como cenário para o filme. Isso desempenhou um papel muito importante nas questões filosóficas da obra. “Certa vez, tive uma experiência em um restaurante onde havia um enorme carrinho com carnes sendo cortadas e apenas transpus diferentes imagens para aquela cena”, contou em entrevista. “Tipo, e se houvesse uma bela vaca com uma gravata borboleta cortando humanos com uma faca? Isso sempre me perturbou. Tornou-se parte da psicologia do filme.”
Mais tarde, ele admitiu que “o coração do filme era sobre carne”, embora o canibalismo dos personagens não seja confirmado no original. O cineasta Guillermo del Toro afirmou posteriormente que ficou sem consumir carne por um tempo após assistir “O Massacre da serra elétrica” e até mesmo a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), maior organização de direitos dos animais no mundo, reconheceu o longa como uma das obras mais pró-vegetarianismo de todos os tempos.
Muita arrecadação, pouco repasse.
“O Massacre da Serra Elétrica” alcançou grande sucesso de bilheteria (arrecadou mais de 30 milhões de dólares, uma grande quantia para a época). No entanto, o elenco e os cineastas envolvidos não viram a cor desse dinheiro. Hansen relembrou em uma entrevista à Entertainment Weekly que seu primeiro cheque foi de 47 dólares e sete centavos. Ele estimou que ganhava dois dólares por hora, valor que correspondia ao salário mínimo daquele ano nos Estados Unidos.
Devido a um cruel acordo de distribuição com a extinta Bryanston Distributors (uma empresa com supostos laços com a máfia), pouco dinheiro foi repassado aos envolvidos no projeto. O elenco ficou furioso com Hooper – sem saber que ele estava na mesa situação. Posteriormente, a New Line Cinema comprou os direitos de distribuição de Home Vídeo depois que a Bryanston deixou de pagar os milhões devidos à equipe do longa, foi só então que cerca de um milhão de dólares foi repassado aos cineastas.
Uma audição com muito gritos
Mais de 10 anos após o lançamento triunfante do primeiro filme, Hooper e Henkel novamente se uniram para criar “O Massacre da Serra Elétrica 2”, mas desta vez, eles não tiveram tanta liberdade. A New Line Cinema mergulhou no processo criativo, e os executivos não gostaram da ideia original: a trama sobre uma cidade inteira de canibais sob o título de “Além do Vale do Massacre da Serra Elétrica”. O roteirista L.M. Kit Carson foi contratado para dar o tom carnavalesco que a sequência veio a ter. Eles ainda conseguiram transformar a história em uma paródia do original com direito a um pôster no estilo da comeria dramática “Clube dos Cinco”.
Um dos fatos mais estranhos da sequência – além do ator Dennis Hopper ter odiado o filme – foi o teste de Caroline Williams. A atriz, que interpretaria a apresentadora de rádio que se tornaria a última vítima da família Sawyer (a turma de Leatherface ganhou um sobrenome no segundo filme), foi chamada para ler o papel e disse que suas falas não era, tão pesadas. Em vez de entrar e simplesmente ler seus poucos diálogos, a atriz decidiu improvisar enlouquecendo antes mesmo de colocar os pés na sala de audição. A tática deu certo e ela foi escalada.