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Entrevista com Rodrigo Aragão: Diretor fala sobre o cinema de horror, “Cemitério das Almas Perdidas” e projetos futuros

O diretor capixaba Rodrigo Aragão, conhecido internacionalmente pelas suas obras de terror, sempre foi um apaixonado pela sétima arte. Na infância, se encantou ao assistir o making of de “Guerra nas Estrelas: O Império Contra-Ataca” e anos depois, na adolescência, trabalhou com efeitos especiais práticos. Foi a forma que o cineasta encontrou de ingressar no universo cinematográfico.

O seu primeiro longa-metragem, “Mangue Negro”, lançado em 2008, foi filmado no quintal de sua casa, em Guarapari, no litoral de Espírito Santo. O filme conquistou vários prêmios de efeitos especiais e direção nos festivais em que foi exibido, além do “Prêmio Audiência do Rojo Sangre”, na Argentina. Esse reconhecimento permitiu que o diretor realizasse mais cinco longas.

Esse ano, lançou “O Cemitério das Almas Perdidas”, uma fantasia sombria que se baseia no livro negro de São Cipriano e fala sobre a colonização do Estado, com destaque para a cultura indígena capixaba. A obra contou com o incentivo da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, e teve um orçamento de R$ 2 milhões, algo então inédito para Aragão.

Além de realizar filmes, o cineasta também possui uma produtora, a Fábulas Negras, onde promove oficinas e cursos de formação de profissionais para o cinema.

 

 

“(…)nunca produzimos tanto cinema de gênero e acredito que este é um caminho sem volta. Vamos produzir como for possível e cada vez mais, melhor e mais ousadamente, acredito que os movimentos políticos caem, mas a arte continuará de pé.”

Rodrigo Aragão, cineasta.

Rodrigo conversou com a Darkflix sobre suas inspirações, efeitos especiais práticos, seu último lançamento e quais os seus planos para o futuro. Confira a entrevista a seguir.

 

Darkflix – Você começou a trabalhar cedo como maquiador de efeitos especiais (aos 17 anos), nessa idade, você já tinha em mente o desejo de enveredar pelo universo cinematográfico?

Rodrigo Aragão – Claro! Eu comecei a sonhar fazer filmes aos 7 anos de idade quando assisti o making of de “O Império Contra-Ataca” no SBT. A maquiagem foi apenas a maneira que encontrei de começar essa jornada.

 

D – Sabemos que você é apaixonado pela sétima arte e cresceu em um período fértil (décadas de 80 e 90) muito fértil para o cinema do gênero de terror, principalmente nos EUA. Quais foram as suas influências dessa época? Quais filmes e cineastas te inspiraram?  

RA – “O Lobisomem Americano em Londres”, “Enigma de Outro Mundo”, “A Volta dos Mortos-vivos”, “A Noite do Arrepio”, “Evil Dead”, “Demons”… São filmes que estão sempre em minha mente como uma espécie de motivação primordial de abrasileirar esse gênero. Sobre cineastas, Sam Raimi e Peter Jackson são meus heróis, sempre acompanhei seus filmes com muita atenção.

 

D – Apesar das dificuldades para produzir seu primeiro longa, “Mangue Negro” (2008), ele conquistou vários prêmios e trouxe reconhecimento internacional, o filme foi um divisor de águas na sua carreira? O que mudou depois dele?

RA – Fazer um longa-metragem tão “diferente” como “Mangue Negro”, com certeza abriu as portas para muitas realizações e parcerias que me permitiram filmar mais cinco longas, sempre com condições de trabalho cada vez melhores, além do acumulo de conhecimento a cada set, que tem valor inestimável. Então muita coisa mudou sim.

 

D – É possível perceber a sua evolução técnica, principalmente nos efeitos práticos, ao longo de suas produções, como “A Noite do Chupacabras” (2011), Mar Negro (2013), As Fábulas Negras (2015) e A Mata Negra (2018). Você prefere trabalhar com os efeitos especiais práticos e maquiagem de efeitos ao invés dos efeitos de computação gráfica? Por quê?

RA – Acho que os efeitos digitais costumam envelhecer mais rápido que os analógicos. Além disso, eu gosto muito do desafio de construir a ilusão diante das câmeras, isso ajuda na interpretação dos atores e faz tudo ficar mais divertido.

 

D – “O Cemitério das Almas Perdidas” era um projeto antigo que surgiu ainda na sua infância, certo? Como foi amadurecer a idéia durante todo esse tempo e finalmente tirá-la do papel?

RA – Difícil de explicar como isso é emocionante! “O Cemitério das Almas Perdidas” era meu filme impossível, aos poucos fomos achando soluções para contar sua historia de maneira mais barata sem perder sua essência. É claro que muita coisa mudou, mas estou muito orgulhoso de ter terminado.

 

 

D – O filme contou com um orçamento de R$2,1 milhões que permitiu uma estrutura e planejamento que você ainda não havia tido nos seus filmes anteriores. O que isso representou?

RA – Dignidade em todos os setores da produção, ter uma equipe do tamanho correto, recebendo salários justos e trabalhando com prazos realistas é simplesmente maravilhoso, cinema é uma arte cara e trabalhar sem orçamento sempre é muito desgastante e às vezes frustrantes no resultado final.

 

D – Como foi lançar “O Cemitério das Almas Perdidas” no Brasil durante a pandemia? E quais os planos para o filme daqui para frente?

RA – Extremamente triste, é um filme para ser visto em tela grande com som de cinema, mas 2020 não nos permitiu. No Brasil, o filme deve fazer um circuito de festivais e esperar os cinemas voltarem para tentar uma distribuição, a coisa mais difícil no mercado nacional. No exterior já estamos negociando com alguns países, e com certeza o filme será mais assistido lá fora.

 

D – Muitos festivais brasileiros e internacionais se reinventaram durante esse período de isolamento social e foram realizados no formato online (total ou parcial). Isso possibilitou um maior alcance de público e de certa forma democratizou o acesso aos curtas e longas-metragens. Você acha que isso influenciará as próximas edições dos festivais de cinema e a forma como consumimos o audiovisual?

RA – Sim. Uma das melhores coisas dos festivais é o contato direto com a platéia, e espero que eles possam voltar o mais rápido possível, mas acredito que a maioria vai continuar tento as janelas online que são muito interessantes.

 

D – Você já disse em entrevista que a fantasia é uma ótima maneira de se pensar na realidade. Acredita que o gênero do terror também pode ser um veículo para expor as mazelas e problemas que enfrentamos em nossa sociedade – sem perder a intenção de assustar e divertir o público? 

RA – Os bons filmes de terror sempre fizeram isto e continuaram fazendo, o terror reflete os medos da sociedade, estamos vivendo uma época rica em medos.

 

D – O gênero de terror ganhou destaque nos últimos anos e recebeu a adulação crítica através de obras recentes que se destacaram nas bilheterias. Você enxerga isso como um panorama positivo para o nicho? Ou acha que essa popularidade é cíclica e se repete de tempos em tempos? 

RA – Acho que se repetem de tempos em tempos. Nesses períodos mundialmente conturbados mais filmes serão produzidos e com a quantidade vem a qualidade, por isto acredito que teremos bons filmes nos próximos anos, então as produções começam a se repetir e o gênero volta para o lado B, até emergir novamente.

 

D – Como você vê o futuro do cinema fantástico no Brasil, considerando o corte de políticas públicas para o incentivo do audiovisual e a já conhecida dificuldade de se produzir no país sem patrocínio?

RA – Estamos vivendo uma situação complexa, se por um lado vemos um desmonte declarado e uma marginalização das artes em geral, além de uma censura conservadora e até fanática religiosa, por outro lado nunca produzimos tanto cinema de gênero e acredito que este é um caminho sem volta. Vamos produzir como for possível e cada vez mais, melhor e mais ousadamente, acredito que os movimentos políticos caem, mas a arte continuará de pé.

 

D – Além de produzir filmes, você já realizou inúmeras oficinas sobre efeitos especiais e em breve irá ministrar o curso online “Cinema de Terror Fantástico Brasileiro” através do Instituto de Cinema de São Paulo. O que será abordado nas aulas?

RA – Passar informação é a coisa mais importante que posso fazer na vida, penso que para as próximas gerações tem que ser mais fácil do que foi para mim, então o curso de Cinema Fantástico será uma maneira de incentivar pessoas a produzirem com o que tem em mãos, com o máximo possível de qualidade, incentivando a criatividade, acima de qualquer coisa.

 

D – Quais são os seus próximos planos, já tem projetos em vista?  

RA – Sim, estou me dedicando ao meu canal no Youtube, O MONSTRÓLOGO, onde falo de efeitos especiais, minhas produções e claro, Monstros. Em breve devo começar uma web serie independente e também tenho trabalhado em uma co-produção internacional para um longa metragem sobre os prédios à beira mar em Guarapari – ES, que ficam praticamente vazios fora de temporada.

 

D – Quais os cinco filmes imperdíveis do catálogo da Darkflix você indicaria para os fãs do terror?

RA – Parabéns pelo catalogo incrível que nos proporciona ótimos momentos.

1) “Demons – Filhos das trevas”, obra prima de Lamberto Bava

2) “Viy”, terror russo simplesmente genial, acredito ter sido uma grande inspiração para Sam Raimi fazer “Evil Dead”.

3) “Pelo Amor e Pela Morte”, o mais bonito e poético filme de zumbis de todos os tempos.

4) “Nervo Craniano Zero”, terror brasileiro da melhor qualidade, vindo da mente criativa de Paulo Biscaia.

5) “A Noite das Gaivotas”, Armando Ozório nos entrega o melhor filme ruim que você vai assistir.

 

D – E para finalizar, na sua opinião, qual cineasta escreveu o roteiro de 2020 (Risos)?

RA – Um roteirista muito ruim, com personagens caricatos e sem motivação, afinal como explicar pessoas que acham que caixões estão sendo enterrados vazios? Movimentos anti- máscaras ou pessoas que incendeiam grandes reservas que são verdadeiros tesouros do país? O ano de 2020 é com certeza um ano trash, no pior sentido da palavra.

 

 

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