Há cerca de seis anos perdíamos o incrível ator Christopher Lee. No dia 07 de junho de 2015, Lee faleceu, vítima de insuficiência cardíaca e respiratória. Ele tinha 93 anos. Terminava uma era icônica marcada pelos filmes de terror e fantasia que levaram o britânico ao panteão dos grandes nomes do cinema.
Sir Christopher Frank Carandini Lee nasceu em 1922, em Londres. Filho de Estelle Marie, uma condessa italiana, e o oficial do exército britânico Geoffrey Trollope Lee. Nascido em uma família de renome, a linhagem de seus antepassados pode ser traçada até Carlos Magno, um importante imperador e conquistador medieval da Dinastia Carolíngia, Magno foi coroado Imperador do Sacro Império Romano Germânico, em 800, pelo Papa Leão III.
Apesar de toda pompa, Christopher e sua irmã mais velha Xandra, tiveram uma vida relativamente normal. Aos 17 anos, deixou a Inglaterra para lutar junto aos finlandeses na Guerra do Inverno e logo em seguida se voluntariou na Royal Air Force, onde permaneceu de 1941 a 1946, e alcançou o posto de tenente de aviação, atuando inclusive na Segunda Guerra Mundial.
Após o fim da guerra, Lee resolveu seguir a sua vocação, ele queria atuar. Inicialmente foi dispensado por vários diretores devido a sua imponente estatura (1,96m), mas não desistiu. Em 1947, conseguiu seu primeiro papel: uma aparição no romance gótico “Corridor of Mirrors”, de Terence Young. Lee continuou fazendo pequenos papeis em várias produções nos anos que se seguiram.
A virada em sua carreira realmente aconteceu em 1957, quando foi escalado para o longa “A Maldição de Frankenstein”. Foi o princípio de um longo relacionamento com a produtora Hammer Films que, com a ajuda de Lee e seu companheiro de tela Peter Cushing, revolucionou a produção de filmes de terror e marcou a história das obras do gênero. No ano seguinte a Hammer lançou “Drácula, O Vampiro da Noite” com Lee no papel de Conde Drácula, personagem que marcaria para sempre a sua carreira e o alçaria ao estrelato. O ator levou para a tela um vampiro selvagem e sedutor. Suas participações como Drácula na Hammer se estenderiam por mais seis sequências.
Durante esse período, Lee participou de outras produções. Em 1959, mostrou uma faceta mais dramática ao interpretar Henry Baskerville em “O Cão dos Baskervilles”. Seis anos depois, o produtor Harry Alan Towers deu início a série “Dr. Fu Manchu” estrelada por Christopher Lee. Até o final da década, Towers e o ator fariam cinco filmes sobre o famoso vilão dos romances de Saz Rohmer.
Escalados para várias produções sombrias, Lee e seu amigo Cushing tiveram as suas imagens associadas ao gênero do terror por décadas. Durante os anos 1970, junto com o ator Vicent Price, eles se tornaram conhecidos como o “Trio do Horror”. Foi então que Lee decidiu deixar o Reino Unido e se mudou para os Estados Unidos. Ele queria fugir desse rótulo. Em uma entrevista realizada em 2011 ele confessou: “Peter e Vincent fizeram alguns filmes sérios maravilhosos, mas são conhecidos apenas pelo terror. Foi por isso que fui para a América. Eu não conseguia ver nada acontecendo, exceto uma continuação do que tinha feito antes. Alguns amigos, Dick Widmark e Billy Wilder, me disseram que eu precisava sair de Londres, caso contrário, seria sempre estereotipado.”
Porém, as atuações distintas de Lee lhe garantiram papéis em outros grandes filmes como “O Homem de Palha” (1973), no qual interpretou um padre pagão; “Os Três Mosqueteiros” (1973) e sua sequência de 1974, em que fez o papel do Conde Rochefort; o filme “007 contra o Homem com a Pistola de Ouro” (1974), onde viveu Scaramanga, o inimigo de James Bond e a comédia “1941 – Uma Guerra Muito Louca” (1979), de Steven Spielberg.
Durante os anos 1980 e 1990, participou de inúmeros filmes e seriados para a TV. Em 1995, interpretou o fundador do Estado do Paquistão no épico “Jinnah” (1998), sua atuação como Muhammad Ali Jinnah lhe rendeu o reconhecimento dos críticos. Lee considerava “Jinnah” o seu trabalho mais importante.
Mais tarde, foi apresentado a uma nova geração de fãs ao ser escalado para o papel do mago Saruman na lucrativa adaptação de Peter Jackson na trilogia “O Senhor dos Anéis” do autor J.R.R. Tolkien. Lee participou de dois filmes e reprisou seu papel em “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (2012) e “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” (2014). Curiosamente, Lee era a única pessoa envolvida no projeto que conheceu pessoalmente Tolkien. Eles se encontraram em um Pub, em Oxford, durante a juventude de Lee que sempre foi fascinado pela obra do escritor.
No início dos anos 2000, George Lucas, grande fã das obras da Hammer, convidou Lee para atuar na saga “Star Wars”. Tanto Lee, quanto Cushing, participaram da franquia. Peter viveu o Governador Tarkin em “Guerra nas Estrelas” (1977) e Christopher interpretou o Conde Dookan em “Star Wars Episódio II: Ataque dos Clones” (2002) e “Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith” (2005).
Lee também fez pequenas aparições em filmes do diretor Tim Burton, fã declarado do ícone: “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” (1999), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), “A Noiva Cadáver” (2005), “Alice no País das Maravilhas (2010)” e “Sombras da Noite” (2012).
Mesmo debilitado pela idade, ainda fez parte de “A Árvore de Palha, sequência de “O Homem de Palha” e viveu o Monsieur Labisse em “A Invenção de Hugo Cabret” (2012), de Martin Scorsese.
Ao longo de sua carreira, Lee atuou em mais de 280 produções. Mas, ele não se limitou à atuação. Versátil, narrou documentário, livros e poemas, dublou personagens em longas e games em diferentes idiomas, escreveu vários livros – inclusive sua biografia: “Tall, Dark, and Gruesome” -, e em 2005, aos 83 anos entrou para o mundo do heavy metal.
Grande interessado por música, Lee surpreendeu os fãs ao participar de um dueto com o cantor Fabio Lione, vocalista da banda italiana Rhapsody of Fire. É possível ouvir a voz marcante do britânico na faixa “The Magic of the Wizard Dream”. Em 2010, lançou “Charlemagne: By the Cross and the Sword”, seu primeiro álbum. A obra conta a vida de Carlos Magno através de uma ópera sinfônica. O projeto lhe rendeu o prêmio Metal Hammer, o maior reconhecimento da indústria do heavy metal. Dois anos depois, no seu aniversário de 91 anos, lançou a sequência “Charlemagne: The Omens of Death”. Em entrevista ao The Guardian contou que o primeiro álbum era de metal, “mas o que eu cantei era mais sinfônico. Agora, no segundo, The Omens Of Death, é cem por cento heavy metal”.
Video da música “The Bloody Verdict of Verden”, do primeiro álbum de Lee
Logo após o seu aniversário de 93 anos, Lee foi hospitalizado no Hospital de Chelsea e Westmin, em Londres, devido problemas cardíacos e respiratórios, ele ficou internado por três semanas, mas não resistiu. Sua esposa, a ex-modelo dinamarquesa Birgit Kroencke, com quem o ator se casou em 1961, adiou o anuncio da morte do esposo porque queria antes avisar a família e amigos próximos.
Ainda em vida, Lee recebeu do príncipe Charles a Ordem do Império Britânico em 2001, por seus “serviços à interpretação” e em 2009, foi nomeado Cavaleiro por seus serviços como ator e filantropo. Em 2011, recebeu um prêmio pelo conjunto da obra no Bafta, considerado o Oscar britânico. Na ocasião, o ator declarou que jamais se aposentaria, “não vou pendurar as chuteiras até morrer”.