Cânticos distantes no ar, crânios de animais pendurados pela floresta e uma sensação de perigo eminente. Não se trata de delírio, é o folk horror, ou terror folclórico, um dos subgêneros mais enervantes da sétima arte.
Vagamente definido, o terror folclórico explora o potencial aterrorizante de paisagens rurais isoladas, oferecendo um contraponto brutal à noção romântica do mundo natural como um paraíso restaurador e tranquilo. No horror popular, as florestas são hostis, a reclusão é enlouquecedora e a terra está crivada de ossos do passado. Embora não sejam necessariamente de natureza sobrenatural, muitos filmes desse subgênero baseiam-se em lendas, mitos e crenças do velho mundo. Em comum, tais filmes contêm uma brutalidade perturbadora – uma explosão de violência e crueldade feita pelo homem que não é para os fracos de coração. Sem mais delongas, conheça dez longas que fazem jus a essa classificação.
VIY – A LENDA DO MONSTRO (Viy Spirit of Evil), 1967
Na história deste clássico terror russo (primeiro e único filme de terror lançado oficialmente na era URSS), acompanhamos Khomá, um jovem estudante de teologia que se perde em uma região rural da antiga União Soviética. Ele encontra abrigo em uma casa isolada, mas logo descobre que a proprietária é uma bruxa. Ela sobe nos ombros de Khomá e o usa para se locomover. Quando consegue se desvencilhar, o jovem espanca a idosa e foge. De volta ao seminário, ele descobre que um rico fazendeiro solicitou sua presença para velar e rezar por sua jovem filha, assassinada recentemente. O pedido teria sido feito pela própria jovem antes de morrer. Sem escolha, Khomá é encarcerado em uma pequena igreja com o cadáver da bela moça, que ele descobre ser a feiticeira que espancou. Durante três dias, o religioso será testado pela bruxa sedenta por vingança. O filme foi inspirado em um conto escrito pelo russo-ucraniano Nikolai Gogol, em 1835.
Em 2014, um novo longa baseado na obra “Mirgorod”, compilação de contos fantásticos escritos por Gogol, foi lançado sob o título “VIY – A LENDA” (Viy 3D). Assim como a primeira versão, o remake retrata – com certas liberdades criativas – o conto “Viy”, na qual Khomá Brut, estudante de um monastério, vê-se envolvido com uma bruxa e é obrigado a presidir o seu velório por três noites seguidas, enfrentando forças sobrenaturais e o demônio do título.
Com ótimos efeitos especiais, fotografia, figurinos e arte, desta vez o longa conta a história de Jonathan Green, um cartógrafo inglês do século XVIII, que se aventura em uma jornada para mapear as terras desconhecidas da Transilvânia, a fim de descobrir os segredos obscuros e perigosas criaturas escondidas em uma amaldiçoada vila perdida na floresta ucraniana.
O ESTIGMA DE SATANÁS (The Blood on Satan’s Claw), 1971
Um cadáver deformado e em decomposição é acidentalmente exumado nas fazendas da Inglaterra do século 18, logo, histórias supersticiosas começam a tomar conta da região. A paranoia crescente incentiva as crianças locais a brincarem com jogos diabólicos em uma igreja em ruínas. Sob a liderança de Angel Blake, os pequenos se convencem de que o cadáver foi possuído e usam o corpo apodrecido para realizar todos os tipos de rituais depravados. Um juiz severo toma para si a tarefa de deter a influência demoníaca e restaurar a ordem na comunidade fragmantada. “O Estigma de Satanás” é visualmente exuberante e visceralmente chocante em sua devassidão satânica, obra essencial para os fãs do subgênero.
O HOMEM DE PALHA (The Wicker Man), 1973
Este incrível clássico cult criado por Anthony Shaffer e Robin Hardy, obteve ótima recepção da crítica especializada e do público. Com elementos de fantasia e horror, o filme conta a história do sargento Howie, que passa a investigar o desaparecimento de uma menina em uma pequena comunidade isolada na costa oeste da Escócia. Durante a investigação, o policial moralista se choca com os costumes do local, onde casais fazem sexo ao ar livre e mulheres dançam nuas em rituais religiosos. Quando conhece o Lord Summerisle, líder religioso de uma seita pagã, belamente interpretado por Christopher Lee, a sua investigação passa a correr perigo.
A obra ganhou um remake em 2006, estrelado por Nicolas Cage. A nova versão trouxe algumas mudanças na história. Desta vez, Cage interpreta Edward Malus, um policial que decide se afastar por um tempo após um acidente na estrada. Em sua casa, ele recebe uma carta da antiga noiva: a filha dela está desaparecida e a mulher pede ajuda a Edward para encontrá-la. O policial parte para Summersisle, remota ilha da costa do Maine, local do sumiço. Lá, ele encontra uma comunidade matriarcal isolada rodeada de mistérios. Nesta versão de Neil LaBute, o líder da seita pagã, originalmente interpretado por Christopher Lee, aqui é brilhantemente vivido pela atriz Ellen Burstyn.
Cinco depois, a obra ganhou uma sequência livre: “A Árvore de Palha” (2011). Também dirigida por Robin Hardy. A história apresenta uma narrativa independente do primeiro, mas extraída do mesmo universo de cultos e sacrifícios pagãos. No longa, acompanhamos um casal de cantores missionários que viajam para pregar a palavra de sua igreja. Durante a jornada, chegam a uma pequena vila na Escócia e são convidados pelos receptivos moradores para participar de um festival local. Eles aceitam sem desconfiar que a decisão irá mudar os seus destinos. O filme também conta com a presença do ator Christopher Lee.
COLHEITA MALDITA (Children of The Corn), 1984
A história de “Colheita Maldita” se passa na pequena cidade Gatlin, Nebraska. Liderados por um menino que se diz um pastor, um grupo de crianças assassinam brutalmente todos os adultos da cidadezinha. Sem saber o que se passa na região, um casal que viaja por uma estrada próxima, acidentalmente atropela um garoto que tentava fugir de Gatlin. Tentando descobrir o que houve, eles decidem ir até a cidade mais próxima. Chagando lá, se deparam o abandono e desolação e acabam envolvidos em uma trama de sacrifícios e adoração a um Deus pagão. O filme é uma adaptação do livro do mestre do terror, Stephen King.
A exemplo de outras produções da lista, o longa ganhou refilmagens. A versão de 2009 segue fielmente a narrativa da publicação de King, já que o roteiro foi escrito pelo próprio autor. Em 2018, foi lançada “Colheita Maldita” (Children of The Corn: Runaway), a trama acompanha Ruth, uma jovem grávida que sobreviveu a um massacre realizado por uma seita de crianças assassinas. Mais de dez anos se passam desde que ela fugiu de seu passado. Junto de sua filha, ela pula de cidade em cidade tentando de alguma forma firmar raízes. Quando Ruth consegue um emprego e acredita que as coisas estão melhorando, ela pressente que algo maligno está voltando para assombrá-la.
A SERPENTE (The Reptile), 1966
A Hammer certamente contribuiu para o Hall da fama de Monstros do cinema de horror, além dos populares vampiros, múmias e lobisomens, o estúdio levou às telas “A Serpente”, uma criatura mutante, parte humana, parte réptil. Com direção de John Gilling, nome por trás de “A Carne e o Diabo”, “A Epidemia de Zumbis” e “A Mortalha da Múmia”, o filme se baseia no romance “The Lair of the White Worm”, de Bram Stoker (embora o mesmo não seja creditado), e narra a história do Dr. Franklyn, um estudioso de cultos religiosos e sua bela filha Anna. Após descobrir os segredos proibidos de uma seita secreta de adoradores de serpentes, o especialista tem a sua filha sequestrada e submetida à uma maldição. Eles conseguem fugir para o interior da Inglaterra para se esconder dos praticantes do culto. Rapidamente, moradores da região são mortos pelo que parece misteriosas picadas de uma cobra gigante. Um casal herda a casa de uma das vítimas e decidem investigar o que está por trás das mortes.
A MALDIÇÃO DOS MORTOS-VIVOS (The Serpent and The Raibow), 1988
“A Maldição dos Mortos-Vivos” é uma obra do renomado diretor Wes Craven, nome de destaque quando falamos de filmes horror, o mestre é responsável pelos filmes “Aniversário Macabro”, “Quadrilha de Sádicos”, A Hora do Pesadelo”, “Pânico”, entre outros. Neste longa o diretor aborda o tema zumbis utilizando elementos sobrenaturais e fatos reais ocorridos no Haiti. No enredo, um pesquisador é enviado ao Haiti para investigar rumores sobre uma poderosa droga utilizada na pratica de magia negra que promete transformar pessoas em mortos-vivos.
O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (Don’t Torture a Duckling), 1972
O filme se passa em uma remota cidade ao sul da Itália, onde inúmeras crianças estão sendo assassinadas. A polícia se mostra ineficaz e a população indignada se revolta, logo a pequena aldeia se torna uma bomba prestes a explodir. Além dos assassinatos, os temas injustiça e conservadorismo religioso permeiam o longa.
“O Segredo do Bosque dos Sonhos”, foi dirigido por Lucio Fulci, o italiano também participou da criação do roteiro, escrito em parceria com Roberto Gianviti e Gianfranco Clerici. A obra está entre as melhores do gênero cinematográfico italiano de suspense e horror folk, sendo também uma das melhores produções de Fulci. Sergio D’Offizi foi responsável pela bela fotografia e capturou com maestria os cenários naturais da locação.
A BONECA DO DIABO (Sennentuntschi), 2010
O roteiro de “A Boneca do Diabo” se inspira em uma lenda folclórica europeia chamada “A Boneca dos Pastores Guschg”, comumente conhecida na Suíça por “Sennentuntschi”, nome original do filme. Nele, três pastores usam magia negra para criar uma mulher a partir de trapos e palhas. A criatura ganha vida e passa a atender os desejos dos três homens, mas de acordo com a fábula, isso terá um preço. Pouco tempo depois, Sebastian, o único policial da pequena cidade, tem que lidar com a morte de um padre que se enforcou e com uma mulher estranha que apareceu nas montanhas. Enquanto tenta descobrir a identidade dela, o policial mergulha no mistério que vai mudar a forma como ele enxerga os habitantes locais e suas crenças. Seria a mulher encontrada uma vítima? Completamente muda, a jovem sem nome é interpretada brilhantemente pela atriz Roxane Mesquita, com gestos, olhares e grunhidos ela consegue dar o tom emocional necessário a personagem.
O VENTO (The Wind), 2018
“O Vento”, filme de estreia da diretora Emma Tammi, mistura faroeste, folclore e terror para abordar de forma efetiva os medos e a psicose que acompanham o perpétuo isolamento dos personagens da trama. Ambientado no final dos anos 1800, a história acompanha um casal de colonos que vive em uma região isolada do velho oeste americano onde o vento nunca sessa. Lizzy, a esposa, lentamente começa a sentir que há algo estranho no local. Após dar à luz em casa à um natimorto, ela passa a ser atormentada por espíritos malignos que batem em sua porta. Pouco tempo depois, um novo casal se muda próximo à casa de Lizzy e seu marido. Lentamente, o relacionamento entre eles e os vizinhos traz uma reviravolta à trama.
ONIBABA – A MULHER DEMÔNIO (Onibaba), 1964
Este terror japonês atravessou fronteiras e marcou seu espaço entre as obras fílmicas de terror. Em “Onibaba – A Mulher Demônio”, duas mulheres, sogra e nora, vivem em um cenário devastado pela guerra civil japonesa, para sobreviverem atacam e roubam samurais fracos que passam pelo local. A mulher mais jovem logo se interessa por um guerreiro que chega à cabana onde elas vivem, mas a sogra desaprova o romance e trama um plano maligno para separar os dois. Apesar do tempo, o filme manteve seu impacto e é uma opção obrigatória para quem tem interesse pelo cinema japonês e pela cultura do país.