No último domingo (01) teve início a sétima edição da Mostra de Cinema Audiovisual CineCaos. O evento acontece em ambiente digital e toda a sua programação estará disponível até o dia 10 de maio no streaming Darkflix. São 50 filmes, entre curtas e medias-metragens produzidas em solo brasileiro.
Repetindo o sucesso da edição anterior, o CineCaos contou mais uma vez com a curadoria de Beatriz Saldanha e Carlos Primati, nomes conhecidos no cenário cinematográfico. A dupla selecionou filmes que normalmente não fazem parte do circuito comercial e se alinham com o objetivo da mostra: apresentar trabalhos que abordam temas sociais complexos, que precisam ser pensados a partir do audiovisual.
Para inspirar o público que tem dúvida sobre o que assistir primeiro, os curadores listaram 12 títulos (dois longas e dez curtas-metragens) imperdíveis para quem quer mergulhar de cabeça no CineCaos! Com uma programação tão especial, a tarefa não foi fácil, mas eles conseguiram.
Começamos com a relação da cearense radicada em São Paulo, a pesquisadora, crítica e realizadora, Beatriz Saldanha. Doutoranda em Comunicação Audiovisual pela UAM com pesquisa sobre horror francês, ela escreve sobre o gênero para a revista eletrônica “Les Diaboliques” e atualmente, trabalha na organização de uma publicação em dois volumes com artigos sobre a trajetória das mulheres diretoras de horror. Pegue a caneta para anotar as dicas!
Abjetas 288 (2020)
Dirigido pela dupla Júlia da Costa e Renata Mourão, este curta é uma distopia performática e inventiva sergipana que, pela trilha sonora industrial e pelo uso do P&B, dialoga com o melhor do que já foi feito no gênero: o cult steampunk Tetsuo (1989). Destaque ainda para a dupla de protagonistas, a montagem nada óbvia e a composição de quadros dentro dos quadros.
Sinopse: Em um futuro distópico, Joana e Valenza fazem uma jornada à deriva por uma cidade nordestina. Através da música eletrônica e trilha ruidosa, as personagens, nas andanças pelas ruas, performam o que sentem enquanto vivem nessa sociedade tentando entendê-la. Abjetas 288 trata sobre territorialidades, identidades e meritocracia, tudo com um tom irônico e se utilizando de elementos alegóricos que dialogam com a história popular de Aracaju.
Desejo (2021)
Tássia Dhur dirige e protagoniza este curta sobre uma mulher aparentemente introspectiva, mas que logo revela um gosto muito particular por uma prática sexual que vai bem além do convencional. Tássia entrega uma atuação formidável e abordagem surpreendente sobre o desejo sexual da mulher.
Sinopse: O filme conta a história de uma mulher desconectada emocionalmente que vive em uma intrigante vila pesqueira onde conhece um peixeiro, eles se apaixonam até que é revelado o lado sombrio dessa relação.
Macho Carne (2021)
O curta do diretor George Pedrosa também versa sobre o desejo, mostrando através de performances algumas situações fetichistas do universo gay e outras mais extremas, se aproximando da estética do torture porn. Um exercício provocativo e instigante.
Sinopse: Uma pessoa camufla os sentimentos através da pele e anseia que sua carne se rasgue algum dia. Uma ode poética ao fetichismo do corpo, suor e sangue, um fantasma ardente.
O último Bramido (2021)
O curta de estreia da diretora Enoe Lopes Pontes, desenvolvido a partir de uma especialização em direção de teledramaturgia, é um exercício criativo muito interessante. Traz apenas duas atrizes contracenando em uma sala enquanto jogam um jogo de tabuleiro que coloca uma contra a outra. A maneira como a história se transforma e a reviravolta que ela dá faz com que seja um dos curtas de destaque da edição.
Sinopse: Júlia e Fabiana estão entediadas, trabalhando dentro do apartamento delas, até que as duas encontram um misterioso jogo de tabuleiro.
Orunmilá (2021)
Feito em Conceição do Coité, na Bahia, este curta afrofuturista foi dirigido por Danúbia Serena e Rerisson Almeida e desenvolvido por uma equipe de profissionais negros. Traz uma abordagem surpreendente do sertão ao mostrar as andanças de um homem por aquela terra e aonde ele chegará, culminando em uma reflexão contundente sobre escravidão na região.
Sinopse: Após uma noite reflexiva em meio à natureza, Juca é teletransportado para um mundo onde são rompidas as linhas do tempo e espaço, alucinação e lucidez.
Genocídios e Movimentos (2021), Longa-metragem
Essa mistura de documentário e performance feita coletivamente por Andreia Beatriz, Hamilton Borges dos Santos e Luis Carlos de Alencar traz à luz o tema urgente do genocídio do povo negro no Brasil. As falas dos entrevistados, em consonância com a potência da performance, fazem deste um dos longas que sem dúvida merecem destaque dentro da programação.
Sinopse: A montagem de um solo performático, o estouro da revolta, o clamor coletivo das marchas. Arte, organização e raiva contra o genocídio do povo negro. Um manifesto audiovisual gravado entre 2008 e 2016, em Salvador e Rio de Janeiro.
Conheça agora, as indicações de Carlos Primati, que além de curador, também é jornalista, crítico, tradutor e pesquisador. Em parceria com Beatriz, Primati organiza a primeira publicação brasileira dedicada exclusivamente a estudar a obra de Hitchcock. Vamos aos filmes escolhidos por ele:
Veneno (2021)
Curta baiano escrito e dirigido por Kauan Oliveira, retrata de maneira tensa a relação entre patroa e empregada, que se torna mais dramática quando a criada é encarregada de se livrar de um rato.
Sinopse: Jovem empregada doméstica negra precisa livrar-se de um rato que tem invadido a cozinha onde trabalha enquanto lida com os abusos crescentes de sua patroa.
Beira-mar (2020)
“Beira-Mar”, curta gaúcho de Pedro Pellegrini, é uma espécie de road movie estático, pois o carro quebra na estrada, um estiloso exercício narrativo que lida com um tema delicado e sensível, a depressão.
Sinopse: Após ter o carro avariado no meio de uma viagem, uma garota se depara com três pessoas que, apesar de desconhecidas, podem conhecê-la melhor do que ela imagina. Embora as três tenham personalidades distintas, todas elas têm um aviso em comum: a garota precisa consertar o carro e sair dali antes que o dia termine, ou sua vida estará em risco.
Vovó (2022)
Curta mineiro com roteiro e direção de Franco Dafon, é uma intrigante história de intriga e assassinato da matriarca de uma família negra, que lembra as histórias de mistério de Agatha Christie.
Sinopse: Magdalena, Walcyr, Maria Alice e Natanael relatam sobre o último final de semana que passaram com Dona Albertina, a vovó, em 2010. Este reencontro é tomado de uma atmosfera criada pela senhora, a qual é citada a todo momento por cada um deles, ora como lembranças, ora como remorso.
Três Graças (2020)
Curta capixaba de Luana Laux, é narrado em dois períodos distintos e tem sua força no elenco feminino poderoso, com destaque para Nathália Lima Verde e a veterana Margareth Galvão.
Sinopse: Numa fazenda no interior do Brasil que abriga uma antiga Casa-Grande e uma fábrica de cachaça, três irmãs vivem uma ciranda do destino: pedem a Virgem Maria a graça para um desejo que, ironicamente, é a outra quem realiza.
Confluências: Antonio Bispo
De Avelino Regicida, “Confluências: Antonio Bispo”é um depoimento firme e esclarecedor de Antonio Bispo sobre o papel dos quilombos e das populações periféricas e como o sistema social tenta mantê-las marginalizadas.
Sinopse: Registro poeticamente filosófico sobre o entendimento de mundo do grande pensador quilombola Antônio Bispo da Comunidade quilombola Saco, de São João do Piauí. Mestre Bispo faz confluir aldeias, quilombos e favelas por meio de suas reflexões.
Fórmula Selvagem (2021), Longa-metragem
Recomendo todos os longas, mas caso a pessoa só tenha tempo de ver um, não deixe de ver “Fórmula Selvagem”, de Flávio Carnielli, uma sátira anárquica de um país cada vez mais tomado pela insanidade dos governantes.
Sinopse: Panamérica, 1981. Um presidente genocida decide que todos os cidadãos devem participar de uma corrida mortal com seus carros, enquanto envia um exército maligno para perseguir aqueles que resistem.
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