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Entrevista exclusiva com o diretor Paulo Biscaia Filho: Inspirações, Projetos e Pandemia

Entrevistamos o paranaense Paulo Biscaia Filho, nome de destaque dentro do universo do terror, seja nas produções cinematográficas ou teatrais.

Biscaia é graduado em Artes Cênicas pela PUC-PR e Mestre em Estudos Teatrais pela Royal Holloway University of London, com tese sobre o Théâtre du Grand Guignol, teatro localizado na região do Pigalle em Paris. O cineasta atua como diretor, roteirista e editor de cinema e vídeo e é responsável por filmes como o “Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos” (2009), “Nervo Craniano Zero” (2012) – ambos exibidos em festivais nacionais e internacionais e ganhadores de inúmeros prêmios – e “Virgens Acorrentadas” (2018), seu primeiro longa internacional baseado no roteiro de Gary McClain Gannaway.

 

“Morgue Story: Sangue, Baiacu e Quadrinhos” (2009) / Foto: Reprodução

 

Paulo também dirigiu inúmeras peças para o teatro, tais como “Cantos Fúnebres da Esperança” (1991), ”Morgue Story” (2004), “Marlon Brando, Whiskey, Zumbis e Outros Apocalipses” (2013), “A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti” (2017) entre outras. Tais obras também renderam ao diretor oito Troféus Gralha Azul, principal premiação paranaense.

Mas o seu currículo não para por aí, ele está à frente da Vigor Mortis, multimidiática companhia de teatro, vídeo e quadrinhos e também dá aulas nos Cursos de Teatro e Cinema da Faculdade de Artes do Paraná.

Ele gentilmente nos respondeu algumas perguntas sobre seu trabalho, seus projetos futuros e sobre o mercado do terror neste cenário atual de pandemia.

 

Darkflix: Quem e o que inspira o seu trabalho?

Paulo Biscaia: Difícil dizer um nome só. Tem tantos filmes e diretores. “Evil Dead”, “Reanimator”, os diretores Roger Corman, Hitchcock, Joe Dante, Mario Bava, Ed Wood. Sem contar os quadrinhos e a literatura: Will Eisner e Frank Miller, Chuck Palahniuk e JD Salinger. Eles dão o tom dos textos.  Música também. Quem vê meus filmes sabe que tem canções que tem impacto especial na criação. “Nervo Craniano Zero” não seria nada sem Total Eclipse of The Heart. Enfim, tenho os poros abertos e as antenas prontas para receber tudo. Mas, talvez a inspiração principal venha do Grand Guignol, o teatro de horror de Paris que foi tema da minha dissertação de mestrado.

 

“Nervo Craniano Zero” (2012) / Foto: Reprodução

 

Darkflix: Como é o seu processo criativo na hora de desenvolver um roteiro, criar uma história?

PB: Depende muito do caso. “Morgue Story” e “Nervo Craniano Zero” vieram de peças de teatro e foram adaptações para a linguagem de cinema, mas agora estou escrevendo direto para o cinema. Pensando da mesma forma como escrevo para teatro.  Pensando em universos estéticos que quero visitar e em discursos que preciso falar através do formato de fábula de horror. Por exemplo, “Morgue Story” se baseia muito nos filmes do Sam Raimi e Stuart Gordon, mas falam sobre pessoas socialmente apagadas, numa forma muito inspirada pelo roteiro do Guillermo Arriaga em “21 gramas”.

 

Darkflix: De todos os seus trabalhos, no teatro ou no cinema, qual foi o mais satisfatório, que particularmente mais te agradou?

PB: Não me peça para escolher o filho favorito! Hahaha! Todos os filmes trazem coisas que gosto muito assim como tem coisas que eu quero melhorar para o próximo longa. Está aí, meu filme favorito é o meu próximo!

 

Darkflix: Além de diretor, roteirista, editor de cinema e vídeo e dono da companhia Vigor Mortis, você também é professor. Você continua dando aulas nos cursos de Teatro e Cinema da Faculdade de Artes do Paraná? Como faz para conciliar todas as suas atividades?

PB: Sim. Continuo sendo professor. É minha atividade base e gosto muito dela. Trabalho nas criações ou em contraturno, férias ou quando posso tiro uma licença para me dedicar a obra.

 

“Virgens Acorrentadas” (2018) / Foto: Reprodução

 

Darkflix: Como foi participar de uma produção internacional (“Virgens Acorrentadas”), quais diferenças relevantes em relação às produções brasileiras?

PB: O amor pela produção independente de horror é igual no mundo inteiro. O roteirista e produtor Gary Gannaway me convidou para dirigir seu script. E que baita texto era. Foi uma experiência muito bacana e pude conhecer novas pessoas e realizar um splatter ao estilo tradicional americano. Dá para dizer que é o sonho de todo diretor de horror, não é?

 

Darkflix: Pretende se aventurar de novo em trabalhos estrangeiros?

PB: Eu e Gary estamos pensando em um ou dois novos projetos. Se conseguirmos o financiamento, vamos nessa!

 

Darkflix: O terror já foi muito subestimado e precisou se reinventar inúmeras vezes ao longo das décadas, entretanto, filmes do gênero já conquistaram grandes bilheterias, como “O Exorcista”, “Tubarão”, “Alien”, entre outros. Eles provaram para as grandes produtoras que levar sustos é algo rendável. Você acredita que o mercado brasileiro enxerga o gênero desta forma?

PB: Ainda não. Não há ainda uma plena maturidade por parte dos órgãos de fomento e dos grandes produtores para elaborar melhor o gênero. Mas diversos realizadores como eu, o Rodrigo Aragão, Dennison Ramalho e Kapel Furman e outros estão continuamente se dedicando a aprimorar os trabalhos e o seu impacto junto ao público. Que existe uma abertura para isso, a gente sabe que existe, mas ainda não tivemos oportunidade de produção suficiente para explorar esses caminhos em sua plenitude.

 

Darkflix: Como você explica o pós-terror, esse “novo” subgênero seria o mesmo que o terror psicológico?

PB: Não explico! Hahahaha. Agora existe um novo termo “Elevated Horror”, ou o Horror Elevado. Um termo que se aplica a filmes ‘cult’ com elementos de horror. Acho tudo bacana. Desde que promova o horror com dedicação, está valendo. Só não aceito quando usam esses termos para se distanciar das tradições do horror como se tivesse vergonha do próprio gênero.

 

Darkflix: Você está se dedicando a algum projeto atualmente, ou estava antes da quarentena começar?

PB: Sim. Acabei de terminar um novo roteiro. DEMONÍACA. Meu primeiro ‘creature feature’. Estou bem feliz com o roteiro. Escrevi diretamente para as atrizes Guta Ruiz e Michelle Rodrigues. Serão duas heroínas foda (sic) junto ao Ranieri Gonzales. Também estou tentando viabilizar meu filme de zumbi: “Marlon Brando, Whiskey, Zumbis e Outros Apocalipses”. Que é outro roteiro que gosto bastante e não vejo a hora de realizar. Além de projetos de roteiro do Gary que mencionei antes.

 

Tenho muita sorte de estar trabalhando com o que trabalho. Continuo me esforçando diariamente para me manter dentro e se eu puder continuar contando histórias divertidas de horror através de filmes, já serei bem feliz.

 

Darkflix: Em sua opinião, como a pandemia está afetando o cinema de horror independente?

PB: Não sei ainda o tamanho do impacto em produções. Parou tudo. Me pergunte de novo quando estivermos no ’novo normal’.

 

Darkflix: Considerando a necessidade do afastamento social, existe alguma etapa do projeto que pode ser feita à distância? Ensaios, visitas em sets ou buscas por patrocínio precisam ser postergados? 

PB: É uma boa hora para escrever roteiros. Mas estou também ensaiando. Vou dar uma notícia de primeira mão: estou ensaiando uma peça para ser apresentada online, em tempo real com cada ator em sua casa, mas parecendo que estão todos no mesmo ambiente. Estamos descobrindo tecnologias e técnicas muito legais. Espero em breve estar falando mais sobre e já anunciando a estreia. Está sendo um trabalho muito empolgante por seu ineditismo na forma de realização.

 

Darkflix: Você acredita que grandes produtoras terão maior dificuldade de se adaptar aos novos desafios que virão na pós-quarentena do que os pequenos independentes, que normalmente já estão habituados a escassez e a adversidade do mercado?

PB: Todo mundo vai sofrer. É uma crise global. Vamos cuidar o que puder dos doentes, das pessoas que ficarão sem empregos e de quem está sendo fudido (sic) por governos e sistemas opressores. Isso é a prioridade. Em paralelo, vamos pensar em estratégias para fazer o cinema ficar de pé de volta e as pessoas possam curtir novamente esses filmes como parte integrante de suas vidas.

 

Darkflix: Considerando o cenário atual, quais seus planos profissionais para o futuro?

PB: Tenho muita sorte de estar trabalhando com o que trabalho. Continuo me esforçando diariamente para me manter dentro e se eu puder continuar contando histórias divertidas de horror através de filmes, já serei bem feliz. 🙂

 

 

 

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